Godzilla II: Rei dos Monstros (2019)

Escrita por Filipe Manuel Neto em 2 março 2020

Com uma história algo inventiva, tem melhores interpretações e valores de produção que o seu predecessor.

Este filme é a previsível sequela de "Godzilla", com o surgimento de uma legião de criaturas monstruosas chamadas Titãs. Gostei, no geral, do filme de 2014, e fui ver este filme com algum interesse, crente de que finalmente Godzilla estava a ter um tratamento mais interessante da parte do cinema. E confesso que não me sinto desiludido, na medida em que o filme é até melhor do que o seu predecessor em alguns pontos importantes.

O filme pega no ponto onde o anterior terminou e revela-nos os esforços feitos, desde então, para criar uma forma de entender e de reproduzir as vocalizações dos monstros já acordados. É com essa tecnologia que Emma Russel, aliada a um grupo de mercenários, tenta acordar os monstros ainda adormecidos que a Monarch monitora. Ela pensa que isso irá restaurar um equilíbrio natural no mundo, talvez através de um massacre. Confesso que achei esta parte do roteiro algo confusa. Contra ela está o ex-marido, Mark, que defende que todos os monstros deveriam ser simplesmente mortos ou deixados a dormir. Não importa, o facto é que eles acordam o único que deveria ter sido deixado a dormir: a hidra Guidorah, a única que tem capacidade para acordar todos os outros e controlá-los para massacrar a Humanidade. Cabe agora a Godzila e aos humanos seus aliados conter esta ameaça, ainda que isso signifique a destruição parcial do mundo.

Tal como no filme anterior, há coisas boas e más nesta história. É um pouco difícil acreditar que criaturas assim passariam milhares de anos a dormir sem serem detectadas por humanos curiosos. Por outro lado, o filme aproveita bem o material das lendas clássicas envolvendo monstros (Scylla, Kong, o Monstro de Loch Ness, a Hidra e outros). Não fiquei convencido pelas supostas origens alienígenas da Hidra, acho que é um detalhe pouco crível do roteiro. Há também um momento onde todos parecem tropeçar na civilização atlante, mas isso nunca é sequer referido.

O trabalho do elenco é mais agradável neste filme do que no seu predecessor. Para começo, senti que havia mais possibilidades de nos ligarmos às personagens. Essa aposta fez o filme ganhar mais interesse pois nós sentimo-nos mais envolvidos pela acção e importamo-nos mais com o que acontece. Godzilla, nesse aspecto, é uma personagem por direito próprio. De entre o elenco humano eu destacaria pela positiva Kyle Chandler e Vera Farmiga. Ambos fazem um bom trabalho, muito embora a personagem de Farmiga seja muito difícil de entender e pouco digna da nossa simpatia. Watanabe continua a manter a boa performance que começou no filme anterior, terminando-a brilhantemente. Não sei se todo o mérito é do actor ou se o argumentista também reservou um material melhor para o actor, mas o certo é que funcionou muito bem. Bradley Whitford, Aisha Hinds, Ziyi Zhang e Sally Hawkins fazem um bom trabalho de apoio. Millie Bobby Brown está quase a sobrar no filme e tem pouco para fazer, a não ser estar em perigo quando o roteiro precisa de um motivo extra para as personagens se mexerem mais depressa.

O filme manteve os bons valores de produção do seu antecessor. E não há dúvidas que há muito dinheiro investido. Um CGI grandioso e impressionante, com cenários de pura destruição em toda a parte, a aposta em um ambiente mais luminoso, que permite ao público ver melhor a destruição do mundo e as batalhas épicas que são travadas entre as ruínas humanas. Agora vemos melhor o que o primeiro filme manteve envolto em pó e sombras. As criaturas monstruosas também me parecem mais bem trabalhadas e realistas. Temos ainda impressionantes efeitos sonoros e visuais, um bom trabalho de pós produção, com excelente mistura e edição, efeitos especiais bem trabalhados, bons cenários, figurinos e adereços.

No geral, é um filme de acção e sci-fi satisfatório, com uma história algo rebuscada mas que funciona bem se não pensarmos muito nela. Dá para passar o tempo, embora não seja uma obra de arte de cinema. Godzilla continuará, certamente, a ser um monstro recorrente em cinema, muito embora não dê azo a filmes realmente bons.