Millennium (2010)

Written by Filipe Manuel Neto on October 25, 2020

O material de origem já era bom o suficiente, mas ganhou mais força na TV.

Confesso que não sei bem o que pensar, mas acredito que esta série em seis episódios é, na verdade, a adaptação para televisão de uma “versão estendida” dos três filmes originais da trilogia Millennium. Assim, basicamente o que eu disse nas críticas que fiz a cada um dos três filmes serve na perfeição para os episódios respectivos nesta série. Por isso, vou tentar ser breve e sucinto agora.

O enredo é bastante conhecido e acompanha Lisbeth Salander, uma jovem irreverente e com um passado problemático, fortemente marcado pela instabilidade e por um desenraizamento familiar, que a série explica e explora. Ela é uma punk, uma hacker, tem uma prodigiosa memória e vai estabelecer uma amizade e uma colaboração invulgares com o jornalista Mikael Blomkvist, um homem extremamente íntegro que vai ser vítima de uma perseguição, logo nos primeiros capítulos, por dizer verdades incómodas. Os primeiros capítulos irão abordar uma investigação conjunta que ambos farão a um assassino de mulheres, ao passo que todo o resto da série irá debruçar-se sobre o passado familiar e pessoal de Salander, e a forma como ela vai ser vítima, também, de uma tentativa de conspiração ao mais alto nível.

A série é extremamente boa, como bons foram os filmes que estão na sua origem. Porém, é uma série bastante desigual, que começa maravilhosamente e vai decrescendo, em qualidade e interesse. O trabalho do director Daniel Alfredson, que dirige os dois primeiro filmes, deixa bastante a desejar quando comparado para a direcção cuidada de Niels Arden Oplev, que se empenhou no primeiro filme (correspondente aos dois primeiros episódios desta série). No entanto, vale a pena acompanhar tudo porque a história realmente é intrigante e misteriosa o suficiente para nos manter presos até ao fim.

O elenco é igualmente bom, e há várias personagens que vão aparecendo mais ou menos fugazmente. Pessoalmente, eu destacaria a extraordinária interpretação de Noomi Rapace, que deu vida a Lisbeth Salander de uma maneira que eu penso que não voltará a ser igualada. Ela é inteligente, sensível mas também provocadora, brutal e agressiva quando provocada. Ao seu lado, em gritante contraste, o pacato jornalista interpretado por Michael Nyqvist, de uma forma extremamente nobre e digna. Também gostei bastante do trabalho de Lena Endre, que deu vida a Erika, editora da revista Millennium que tem um caso de vários anos com Blomkvist, e de Georgi Staykov, que deu vida a um dos grandes vilões da série de uma forma genuinamente ameaçadora.

A nível técnico, a série é um pouco desigual. Os primeiros episódios são extraordinários e tudo se conjuga para criar um ambiente de tensão e mistério que funcionam maravilhosamente. Da cinematografia aos cenários e figurinos! Mas a partir daí, as coisas não correm tão bem, e só no final é que esse ambiente vai ser novamente recriado, e de modo bastante coxo, com todo o material a sofrer de uma aparência muito pouco cinematográfica. No geral, os cenários e figurinos são bons, e a escolha dos locais de filmagem funcionou perfeitamente. As cenas de acção convidam a bons efeitos visuais, que quase sempre funcionaram bem. Gostei muito dos créditos iniciais, com todos os desenhos e gráficos excelentes, e da forma como a banda sonora foi sendo utilizada.