O Leitor (2008)

Napísané Filipe Manuel Neto dňa 22. marec, 2021

Uma excelente história, onde cada expectador julga por si aquilo que vê.

Fiquei impressionado com este filme. É verdadeiramente memorável. A história começa com o jovem Michael, um menino alemão em plena adolescência. Ele conhece Hannah, uma cobradora do carro eléctrico um tanto mais velha do que ele, e sente-se atraído por ela. Mais tarde, ambos iniciam um caso amoroso muito intenso, que marca a descoberta da sexualidade para Michael. O caso durou apenas um Verão, mas marcou-o de modo impressionante: anos depois, já como estudante de Direito, ele vai reencontrar Hannah numa situação difícil, quando ela é acusada de vários crimes hediondos relacionados ao nazismo.

Este filme tem um roteiro excelente. A história de amor e de desejo físico entre as personagens centrais da trama pode chocar algumas pessoas, quanto mais não seja pela diferença de idades das personagens, mas eu confesso que não me senti rigorosamente incomodado com isso, e que me incomodou bastante mais a atitude permanentemente rabugenta e grosseira de Hannah. A forma como o filme aborda várias situações moralmente discutíveis de uma forma neutra não me parece algo negativo, acaba até por permitir que cada expectador pense por si mesmo sobre o que vê. Também penso que a psicologia e riqueza interior da personagem Hannah não foi totalmente explorada. Há tanta coisa sobre ela que o filme não revela, tanto que queríamos saber… eu sinto que isso é claramente intencional, pela forma como envolve a personagem num mistério saboroso e charmoso. Outra coisa que me chamou a atenção foi a nudez, e as cenas de sexo são, por vezes, bastante visuais, embora sempre curtas… não foi nada que me chocasse e considerasse um problema de facto, mas os pais devem considerar isso antes de deixar os filhos adolescentes verem este filme.

Além de um roteiro aliciante, o filme conta com bons actores. Kate Winslet é a grande estrela do filme e, realmente, está em excelente forma e dá-nos uma interpretação soberba. Mereceu, de facto, o Óscar de Melhor Actriz que conquistou com este trabalho. O muito jovem David Kross mostrou ser uma promessa do cinema europeu com um desempenho intenso de um jovem tímido, retraído e por vezes ingénuo, e Ralph Fiennes não nos desiludiu na versão madura dessa personagem, brindando-nos com um trabalho elegante e contido. O elenco conta ainda com um bom trabalho de Bruno Ganz.

Tecnicamente, é um filme discreto e que não traz nada de novo, apesar de fazer o que tem de ser feito com profissionalismo. A cinematografia é o padrão em uso, mas aproveita bastante os locais de filmagem escolhidos, sabendo também jogar brilhantemente com as sombras: de facto é um filme nebuloso, e o Sol, como a alegria, aparece poucas vezes, como na viagem de bicicleta que as duas personagens centrais, no ápice da sua felicidade, fazem juntas. Os cenários são bons, e os figurinos, e adereços, foram escolhidos de forma a recriar, com cautela e atenção, as épocas pelas quais o filme vai passando (dos anos Cinquenta aos anos Noventa). A banda sonora é boa, mas confesso que não a achei memorável.