O Lado Selvagem (2007)

Written by Filipe Manuel Neto on 2021. május 8.

Um excelente filme que conta a história de vida de um controverso aventureiro do nosso tempo.

Fui ver este filme sem ler muito acerca dele, levado pela curiosidade. O que encontrei mais do que me agradou: é um excelente filme, ainda que seja difícil de ver, e a personagem da história tenha ideias, atitudes e motivações passíveis de discussão.

Muito bem dirigido por Sean Penn, o filme relata a história de vida (breve, pois morreu muito jovem) de Christopher McCandless, a.k.a. Alexander Supertramp. Tal como o filme evidencia, ele era oriundo de uma família de posses e teve uma boa educação, mas carregava consigo a revolta contra o pai abusivo e a mãe passiva. A tudo se associou o desprezo pela sociedade capitalista, materialista, consumista e imediatista na qual nunca se reviu: queimando e dando o seu dinheiro, abandonando tudo o que não era essencial, deixou a sua velha vida para trás e passou a viver errante, como um vagabundo, no meio da floresta, antes de seguir para a sua grande meta: o Alasca.

Muito mais que o filme, é a figura de Chris McCandless que se revela fascinante: ele pode ser visto como um idealista utópico em busca de um sonho, um jovem mimado que se revoltou contra a família ou um rapaz traumatizado e decidido a purgar o passado através de uma vida de auto-negação destrutiva. Pessoalmente, admiro-lhe a determinação férrea, a forma como não hesitou em aventurar-se, contra todas as probabilidades e, não raras vezes, contra toda a sensatez. Mas eu admiro-lhe isso porque jamais teria coragem (ou seria talvez a imprudência?) de imitar o gesto dele. Seja como for, é uma figura que vai permanecer muito controversa e que continuará, seguramente, a levantar discussão e a atrair admiradores e críticos.

Gostei muito do trabalho de Emile Hirsch para o filme. O actor empenhou-se a fundo e deu-se por inteiro à personagem, não hesitando em dispensar a ajuda de duplos e emagrecer até parecer um sobrevivente de guerra. Ele encarnou verdadeiramente a personagem e deu-nos um excelente trabalho dramático. Ao lado dele, há um amplo e interessante leque de actores secundários que abrilhantam o filme: Marcia Gay Harden, William Hurt, Catherine Keener. Em personagens breves, mas importantes, surgem nomes os facilmente reconhecíveis de Vince Vaughn e Kristen Stewart, em interpretações honrosas, mas discretas. Muito mais notável e interessante, o trabalho de Hal Holbrook, numa personagem filosófica que só aparece no filme por alguns minutos, mereceu-lhe a nomeação para o Óscar de Melhor Actor Secundário.

Tecnicamente, o filme tem vários pontos dignos de louvor e menção positiva, começando por um excelente trabalho de filmagem, que aproveita ao máximo as belezas naturais dos locais de filmagem, e uma óptima cinematografia, onde luz e a sombra são magnificamente usadas. É um filme bastante longo, mas o trabalho de edição foi excelente e eu senti que a história contada justifica cabalmente as duas horas e meia de duração. Os cenários são bons, especialmente o autocarro, e os figurinos também, particularmente o da personagem principal, com o cabelo e a barba a darem-lhe um aspecto cada vez mais selvagem, desleixado. O trabalho da equipa de maquilhagem também merece uma nota de louvor pela forma como deixou o rosto de Hirsch particularmente emaciado e pálido, em algumas partes do filme.