O Expresso Polar (2004)

Written by Filipe Manuel Neto on September 24, 2021

Excelentes visuais e animação, mas com uma história terrivelmente mal escrita.

Foi com alguma expectativa que me decidi a ver este filme de Natal. Tinha já a percepção de que o filme, apesar de estar ainda fresco e recente, caiu rapidamente num certo esquecimento, com as cadeias de televisão a preferirem outros filmes na quadra natalícia. Inspirado num livro, que eu nunca li, mas ouvi falar, o filme aborda como grande tema a descrença das pessoas, a partir de certa altura, no Pai Natal.

No filme, uma criança cujo nome não conhecemos é convidada a fazer uma viagem nocturna ao Pólo Norte, a bordo de um comboio a vapor mágico, para conhecer o Pai Natal e assistir à partida do velhinho na sua viagem anual para distribuir presentes às crianças do Mundo. Ele, contudo, não acredita no Pai Natal. Com base nestas premissas, o filme tentou construir uma espécie de fábula acerca da beleza do mito do Pai Natal. Isso nunca funcionou realmente: além de não ter qualquer lógica, o filme tem um início terrivelmente abrupto: nos cinco minutos iniciais, temos um rápido vislumbre da vida do menino enquanto ele finge dormir, e embarcamos no comboio sem mais explicações. A viagem é morna e desinteressante, as outras crianças são insossas ou irritantes e há uma personagem, algo fantasmagórica, cuja razão de existir nunca é realmente explicada, mas que vai ajudando o protagonista quando ele precisa. O final é uma espécie de "Pai Natal Superstar", com um espectáculo de acrobacias aéreas dos gnomos.

Apesar de o filme ter um roteiro lastimoso e ter sido notoriamente vítima de cortes radicais na mesa de edição, é necessário fazer uma vénia a Tom Hanks por uma extraordinária tour de force vocal: o actor aproveitou os seus dotes vocais em pleno e deu voz a um punhado de personagens distintas ao longo do filme, com destaque evidente para o revisor do comboio e o Pai Natal. Mas além de todas estas vozes, o actor prestou-se ainda a cantar em várias das canções principais da banda sonora, que tem os seus momentos de qualidade, apesar de não ser memorável, ter uma série de momentos em que parece copiar a banda sonora de Eduardo Mãos-de-Tesoura e ter uma dada canção, “Hot Chocolate”, que não foi do meu agrado pela extrema simplicidade da letra. Outro aspecto que merece a nossa apreciação positiva é o extraordinário aprumo visual do filme, que aproveita ao máximo os efeitos visuais e o CGI, brindando-nos com uma animação elegante, colorida, vibrante e envolvente.

Posto isto, compreendo perfeitamente porque este filme veio e passou tão rapidamente como um cometa, tanto pelos teatros quanto pelas televisões, indo parar ao cesto de lixo da história do cinema: apesar de o director Robert Zemeckis ter feito uma aposta forte nos efeitos visuais e numa boa animação, nenhum filme se sustenta sem uma boa história para contar.