A Árvore da Vida (2011)

Written by Filipe Manuel Neto on June 19, 2022

Visualmente grandioso e feito com verdadeira mestria técnica e artística, é um filme com temas difíceis e indigestos, que assustará o público com a sua lentidão e ambiente cansativo.

Há filmes feitos para alguns públicos e não para a maioria das pessoas, o público geral. Este filme é um deles: sendo aquilo que é, nem sequer tenta captar a nossa simpatia ou atenção. O filme desembaraçou-se muito bem no circuito dos festivais e chegou a arrecadar a Palma de Ouro do Festival de Cannes, além de que foi aclamado pelos críticos e intelectuais. Porém, não foi entendido por quase ninguém além deles, parece extremamente críptico na sua mensagem e roteiro, e não conseguiu agradar ao público de massas: a prova está no facto de ter recebido três nomeações aos Óscares sem, todavia, ganhar nenhum, e nem sequer ter sido considerado pelos Globos ou BAFTA.

O filme gira em torno de uma família texana, de classe média, entre a actualidade e os anos 50, e concentra-se particularmente na figura de Jack, o filho do casal. O filme mostra como ele vive a sua infância, a relação desigual que mantém com os seus pais (uma mãe mais tolerante e boa, e um pai mais autoritário e desiludido com a própria vida) e a forma como ambos, cada um à sua maneira, o tentam preparar e educar. Pelo meio, observamos a maneira como eles reagem à morte de um dos membros mais jovens da família. O filme procura relacionar isso tudo com a busca de um sentido para a vida humana, mostrando-nos imagens da história do planeta, e outras que nos remetem a vários significados espirituais e metafísicos. Conseguimos, mesmo, ter acesso a orações e pensamentos das personagens.

Tudo isto é muito bonito e interessante, e eu até gostei das personagens porque são credíveis, genuínas, bem construídas, com uma psicologia rica e conseguem captar a simpatia do público. O problema é que esse público pode não suportar sequer a primeira meia hora de filme! Quando o cinema aborda temas de cariz filosófico e espiritual, tende a fazer filmes muito meditativos e lentos, que se arrastam e parecem mais pesados do que seria desejável. E este filme nem sequer tentou fugir a isso e fazer algo minimamente palatável. E como se isto não fosse suficiente, o director Terrence Malick decide usar uma narrativa não linear que nos confunde mais ainda!

No geral, o elenco fez um trabalho muito bom, dentro daquilo que lhe era pedido: Brad Pitt é um actor de peso, que arrasta fãs para o cinema por si mesmo. Ele parece bastante maduro e envelhecido nalgumas cenas, mas eu penso que a personagem lhe exigia isso, como se passasse para fora, visualmente, o quão velha e cansada do mundo a personagem se sentia. Sean Penn é igualmente bom naquilo que faz, ainda que o actor não pareça consciente do que está mesmo a fazer! O jovem Hunter McCracken, nesse ponto, conseguiu desembaraçar-se igualmente bem e com mais sentido de orientação e foco. Por sua vez, Jessica Chastain está deslumbrante, sendo que a beleza visual e os figurinos foram particularmente simpáticos com ela.

A nível técnico, o filme merece realmente ser apontado como um dos mais significativos do ano de 2011, bastando para isso a qualidade visual e estética. A cinematografia é uma das melhores e mais belamente executadas que eu vi em muito tempo, e isso torna-se ainda mais notável se considerarmos que o director Malick tentou restringir o uso de CGI e adoptar outros recursos visuais mais convencionais para atingir os mesmos resultados. Vimos algo semelhante em cenas de O Último Capítulo, filme que por várias vezes me veio à mente enquanto via este filme, seja pelo visual elaborado, seja pelo tema espiritual e metafísico. Também gostei dos cenários, figurinos e adereços, que souberam recriar com rigor o ambiente da classe média americana de 1950. A música e os efeitos de som também fazem um trabalho muito bom.