A Forma da Água (2017)

Written by Filipe Manuel Neto on November 20, 2022

É um bom filme, mas não tão bom quanto eu estava à espera.

Não conheço muitos filmes de Guillermo del Toro, mas imaginei que este filme fosse um pouco semelhante a “Pan’s Labyrinth”, uma obra de que gostei bastante. Assim, sentei-me para o ver com alguma expectativa. Quando acabou, não me senti defraudado, mas também acho que não é melhor do que aquele outro filme de Del Toro, não obstante a maior atenção mediática e da crítica profissional. Recebeu quatro Óscares (Melhor Filme, Melhor Director, Melhor Design de Produção e Melhor Banda Sonora).

O filme começa por nos apresentar Elisa, uma empregada de limpeza muda que trabalha numas instalações de alta segurança do Exército, onde existem laboratórios e oficinas militares e onde acaba por ser presa uma criatura marinha pescada no rio Amazonas. A criatura rapidamente se torna próxima de Elisa, que se apaixona por aquele ser. Quando se torna óbvio que os militares o vão matar, Elisa decide salvar-lhe a vida e devolver-lhe a liberdade.

O filme é bastante surreal e onírico, e isso para mim foi algo de bastante positivo. Gostei muito da criatura, e do design que lhe foi dado, e penso que as personagens e diálogos foram escritos e idealizados de modo muito detalhado e minucioso. Infelizmente, o filme tem demasiada nudez explicita para ser um filme familiar, e há também algumas cenas violentas e chocantes que não são rigorosamente adequadas para crianças ou pessoas sensíveis.

O elenco deixa-nos, no geral, um trabalho bastante bem executado. Sally Hawkins consegue ser convincente no papel que faz e deixa-nos uma excelente performance. Também gostei bastante de Octavia Spencer e Richard Jenkins, que deram vida aos únicos amigos que a protagonista do filme tinha realmente. Michael Stuhlbarg também se desembaraçou bastante bem do desafio que tinha em mãos, ainda que não tenha muito tempo para fazer grande coisa. O actor que veio a revelar-se mais fraco aqui foi Michael Shannon. Ele não foi capaz de fazer com que o seu vilão se tornasse realmente ameaçador e frio. Ao invés, transformou-o num individuo inseguro, falso e agressivo, que usa a profissão que tem para humilhar e rebaixar outras pessoas.

Todos sabemos que os filmes de Del Toro costumam ter bastante estilo, e um estilo vincado, de cunho muito pessoal. Este filme não escapa, pelo contrário: é um dos melhores para se ver bem os hábitos e assinaturas visuais do diretor. É o caso da cinematografia e da paleta de cores que foi utilizada, e onde o verde, em várias tonalidades, tem grande ascendente. Ambientado pelos anos 60, o filme tem vários cenários e automóveis de época e isso funciona muito bem, assim como os figurinos, destacando-se aqui, como é evidente, o figurino do monstro aquático. Todos os efeitos visuais funcionaram razoavelmente bem, e a equipa de caracterização merece ainda um louvor pelo seu trabalho com Doug Jones. A banda sonora, assinada por Alexandre Desplat, também se mostrou excelente e bastante incomum.