Sintonia de Amor (1993)

Written by Filipe Manuel Neto on December 10, 2022

Eficaz, funcional e elegante, tem um roteiro de que não gostei muito e envelheceu um pouco mal, mas continua a ser um filme simpático.

Esta é, seguramente, uma das comédias românticas mais famosas que saíram durante os anos 90, e um dos filmes que ajudou a popularizar Tom Hanks, mostrando ao mundo que ele podia ser um actor sério e fazer mais coisas interessantes além das comédias. O filme começa com a mudança de um homem, e do seu filho menor, para Seattle, a fim de lidarem melhor com uma situação de luto. Ali, a criança começa a pressionar o pai para encontrar namorada, a ponto de ligar para um programa de rádio o pai conta a sua história, comovendo uma jovem jornalista de Baltimore que está prestes a casar com um homem que não ama.

O roteiro aposta muito no platonismo: as duas personagens principais não se conhecem, e só a transmissão radiofónica e a troca de cartas é que as liga verdadeiramente. Nenhuma delas tem motivos reais para procurar pela outra (a personagem de Hanks encara a distância física como um obstáculo e a personagem de Ryan já tem um compromisso sério). No fim, é a tenacidade e a teimosia de uma criança que os leva a encontrar-se. Baseada, puramente, no instinto, o que é um argumento pouco lógico e pouco racional para um adulto tomar as suas decisões. Por tal facto, e apesar de eu reconhecer as qualidades do filme, não o apreciei particularmente. Vejo e entendo a tentativa de criar aqui uma fábula romântica contemporânea, mas as fábulas não me parecem funcionar verdadeiramente nos dias actuais. Para mim, esta não funcionou.

A grande força do filme está nas performances excelentes de Tom Hanks e Meg Ryan. Os dois ainda bastante jovens, tentando aproveitar a oportunidade para conseguir voos mais altos em projectos mais rentáveis e atraentes para as suas carreiras. Hanks tinha feito maioritariamente comédias até aqui, e estava determinado a mostrar a sua capacidade noutros projectos. Não há dúvida de que soube fazê-lo e mostrar um lado mais profundo, sensível e emotivo que não era evidente no seu trabalho até aqui. Ryan também foi muito competente no seu papel. Ross Malinger foi igualmente bastante bom.

O filme não é um grande espectáculo visual. É um filme dos anos 90, que não envelheceu bem e que não aposta muito nos visuais. Prova disso são os gráficos daquele mapa dos EUA, que se parecem com um jogo de árcade. A cinematografia é baça e as cores lavadas, mas isso era algo comum e rotineiro nos filmes desta época, e eu aceito isso razoavelmente bem. O filme tenta compensar-nos com excelentes cenários e paisagens urbanas de Seattle e Nova Iorque, o que é sempre eficaz, e com um excelente final no topo do Empire State Building. A banda sonora faz uma aposta inteligente em canções de Sinatra, Nat “King” Cole, Celine Dion, Carly Simon, Roy Rogers e outros. A maioria das canções são sobejamente conhecidas e populares.